No início deste ano, os participantes do curso “Poética da Cidade”, no Centro Cultural B_arco, SP, constituíram um grupo de artistas (e uma curadora) com algo em comum: um percurso consistente e um grande interesse em perseverar.
A produção do grupo determinou o rumo da orientação; com conversas e reflexões sobre a produção de diversos artistas, sobre as indagações de diversos pensadores, abordamos questões presentes na produção de cada participante.
Eles estavam em momentos igualmente férteis; suas obras foram caminhando e suas produções aumentando.
Logo ficou claro que todos ali entraram em uma mesma pulsão: mostrar sua produção, deixar escoar o que acontecia, até então, apenas em sala de aula.
A sugestão de montar uma coletiva parecia a melhor maneira de dar vazão à este desejo e exercitar a persistência que é ser artista.
A mobilização que envolve a concepção e execução de um projeto precisava ser exercitada; vivenciar este confronto, dar‐se conta das dimensões da própria obra; era isso que os participantes pediam naquele momento.
O projeto Barão 955 surgiu desta pulsão comum; 5 participantes do curso (Claudia Lessa, Giuliano Bianchi, Luciana Benaduce, Rogério Antonelli e Vera Pamplona) buscaram uma maneira própria de mostrar o que fazem; exercitaram a produção de um trabalho para um lugar específico; arriscaram dividir o espaço com outros que encontraram.
Renata Pedrosa, set. 2009
Os trabalhos apresentados na exposição Barão 955: Cabine, Cobertores e Caixa d´agua – Fluxo
O projeto Cabine consiste na consciência da escala e da relação do espaço entre sujeito e o objeto. Essa relação abre novas possibilidades na maneira de ver o objeto, dependendo de onde o observador e o objeto estão. É somente esta distância entre o objeto e sujeito que cria uma situação mais estendida, a participação física torna-se necessária, promovendo uma ação corporal.
O projeto Cabine iniciou em 2001 quando fotografava Cabines de segurança pela cidade de SP, com influências dos mestres Bernd and Hilla Becher que utilizam uma linguagem objetiva e frontal e adoração por objetos industriais que dão a impressão de objetos solitários.
Já o projeto Cobertores surgiu das minhas caminhadas pelas ruas de SP como uma maneira de vivenciar a cidade de SP. Numa das minhas andanças encontrei um objeto que chamou minha atenção: um arranjo enrolado de manta no chão. A manta possuía uma forma ambígua ora parecia um corpo humano,ora uma trouxa de roupas. Essa ambigüidade do objeto me interessou. A partir de então resolvi documentar com minha câmera fotográfica cobertores encontrados nas ruas de SP. Pensando o cobertor como um objeto de abrigo, de uma “casa própria” e resgatando as obras de fotografias que faço desde 2001, onde os elementos da arquitetura estão sempre presentes desenvolvi o projeto “cobertores”. Durante a documentação fotográfica senti a necessidade de expandir o trabalho para o objeto e fazer uma intervenção pública na cidade.
Desafiar o espaço foi umas das propostas de curadoria da exposição no galpão pensando nisso surgiu o site specific Caixa d´agua - Fluxo. Pensar no próprio objeto local para uma idéia mais ampla da memória daquele espaço que foi a casa da minha família até 1956. No galpão existem muitos pontos de águas amputados do passado mas que vivem no espaço até hoje mesmo que o local tenha sofrido transformações.
Pensando a água como sustentação,célula,sangue,vida,fluxo,ciclo,transformação me apropriei do objeto caixa d´agua por meio da pintura,fotografia e som.
Dando continuidade a mesma questão dos trabalhos anteriores Hotel, Caixa d´água, Pontes, Catraca, os trabalhos que apresento nessa exposição Cabine, Cobertores e Fluxo é uma extensão que debate o tempo, espaço e a habitação.
Setembro 2009
Luciana Benaduce